O que o Japão me ensinou sobre ídolos – e o que isso revela sobre o Brasil

O que o Japão me ensinou sobre ídolos – e o que isso revela sobre o Brasil

Ao caminhar pelas ruas do Japão, uma coisa salta aos olhos: os ídolos estão por toda parte. E não falo apenas de celebridades — estou falando de marcas, personagens e símbolos culturais que se tornaram ícones do cotidiano.

Disney, Coca-Cola, Pokémon, Snoopy, Hello Kitty… Eles estão nos trens, nas vitrines, nas embalagens de produtos improváveis e até na comunicação institucional de empresas sérias. O país parece ter aprendido a conviver — e quase venerar — esses símbolos como parte essencial de sua identidade cultural.

Essa constatação me fez repensar uma teoria que eu costumava ter sobre o Brasil.

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A descentralização da mídia e a perda dos grandes ídolos nacionais

Sempre acreditei que o fim da centralização da mídia no Brasil — antes dominada por TV aberta, revistas semanais e rádio — havia diluído nossos grandes ídolos nacionais.
Hoje vivemos uma era de nichos: artistas e influenciadores que se tornam celebridades em bolhas tão específicas que muitas vezes nem chegam ao conhecimento de quem está fora delas.

A internet deu voz a muitos, mas tirou o palco único.

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Mas e o Japão? A idolatria sobreviveu à era digital

O Japão também passou pela descentralização digital. Plataformas como TikTok, YouTube e redes sociais estão tão presentes aqui quanto em qualquer outro lugar.
E, ainda assim, a idolatria coletiva continua forte. Os ídolos — sejam eles marcas, personagens ou pessoas — seguem visíveis, queridos e respeitados por públicos amplos.

Comecei a entender que talvez essa diferença não seja apenas sobre tecnologia ou mídia. Talvez ela diga mais sobre cultura.

Reconstrução, identidade e memória coletiva

Depois da Segunda Guerra Mundial e da tragédia das bombas atômicas, o Japão passou por uma reconstrução intensa — não só econômica, mas também simbólica.
A influência americana foi decisiva nesse processo. Muitos dos ícones culturais que hoje vemos incorporados ao cotidiano japonês foram adotados nessa época como uma maneira de redefinir identidade, autoestima e senso de comunidade.

De certa forma, o país aprendeu a usar esses símbolos como âncoras de pertencimento, nostalgia e reconstrução.
Eles não são apenas personagens — são parte da memória afetiva e coletiva de um povo que precisou se reinventar.

E o Brasil?

O nosso caminho foi diferente. Embora também tenhamos vivido períodos de transição e trauma, não houve no Brasil um processo semelhante de reconstrução simbólica coletiva.
Com o tempo, e especialmente com a fragmentação midiática, nossos ídolos passaram a ocupar espaços menores, mais isolados.

Ainda temos ídolos, é claro. Mas eles estão cada vez mais confinados às suas bolhas — ausentes das ruas, das vitrines e do olhar coletivo.

Mais do que mídia, é cultura

A experiência no Japão mostra que a permanência de ídolos no imaginário popular vai além da mídia. É uma questão de cultura, identidade e memória.
Enquanto o Japão transformou seus símbolos em elementos de coesão social, o Brasil parece ter deixado essa força simbólica se dissipar com o tempo.

Não se trata de nostalgia ou saudosismo. Trata-se de entender como ídolos — quando bem trabalhados — podem ser uma poderosa ferramenta de conexão entre passado, presente e futuro. E talvez, quem sabe, ainda possamos (re)construir os nossos.

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