Endividamento das famílias brasileiras: estamos vivendo um novo cenário?

Endividamento das famílias brasileiras: estamos vivendo um novo cenário?

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Nos últimos anos, o tema do endividamento das famílias brasileiras deixou de ser um assunto restrito aos especialistas em economia para se tornar protagonista no debate público. E não por acaso. A pandemia de 2020–2022 mudou completamente a forma como consumidores acessam crédito, como administram suas dívidas e como lidam com a volatilidade da economia.

O que antes parecia um equilíbrio confortável — com endividamento e inadimplência variando dentro de faixas relativamente estáveis — deu lugar a outro contexto, marcado por choques simultâneos de renda, juros e inflação. Mas afinal: entramos ou não em um novo patamar de endividamento no Brasil?

Antes da pandemia: estabilidade com limitações

Entre 2017 e o início de 2020, a economia brasileira operava em um cenário de relativa normalidade. A inflação estava controlada, a taxa Selic vinha em queda e o crédito às famílias fluía com mais facilidade. Níveis de endividamento e inadimplência mantinham-se estáveis.

Por outro lado, havia um entrave importante: a renda real pouco crescia. Isso fazia com que muitos brasileiros recorressem ao crédito sem conseguir melhorar de forma significativa sua capacidade de pagamento. O equilíbrio existia, mas era frágil.

Pandemia: ruptura do equilíbrio

Com a chegada da Covid-19, tudo mudou rapidamente.

  • Inflação subiu com força, pressionada pela alta dos custos e gargalos globais.

  • A Selic caiu ao menor nível da história para estimular a economia.

  • O desemprego disparou.

  • A renda das famílias recuou.

O resultado? Aumentaram tanto o uso do crédito quanto os atrasos nos pagamentos. De lá para cá, mesmo com a retomada parcial da economia, esses indicadores não voltaram aos níveis anteriores — sinal de que os efeitos podem ter sido mais estruturais do que temporários.

Pós-pandemia: ajuste lento e desigual

Desde 2022, o Brasil vive uma fase de recuperação gradual do mercado de trabalho. Há mais empregos e o rendimento médio melhora, ainda que aos trancos e barrancos. Em contrapartida, o Banco Central elevou a Selic de forma agressiva para controlar a inflação — levando o crédito a ficar muito mais caro.

Temos, assim, um quadro misto:

✅ renda com leve recuperação
❌ juros altos pressionando o orçamento familiar

Esse “empate técnico” ajuda a explicar por que a inadimplência não explode, mas também por que o endividamento segue em níveis recordes.

2023 em diante: estabilidade aparente, fragilidade real

Com a desaceleração da inflação, o custo de vida perdeu parte da pressão. Porém, os juros continuam apertando. Muitas famílias permanecem com renda bastante comprometida pelo pagamento de parcelas — especialmente aquelas que recorreram ao cartão de crédito e ao crédito pessoal durante a fase crítica da pandemia.

Mesmo iniciativas como o Desenrola Brasil ajudam, mas não resolvem o problema estrutural: falta espaço no orçamento para amortizar dívidas e reconstruir a capacidade de poupança.

Estamos em um novo regime de crédito?

Tudo indica que sim.

A economia brasileira passou a operar sob novas regras de convivência entre:

  • Taxas de juros altas

  • Inflação em desaceleração

  • Recuperação do emprego — mas ainda desigual

  • Crédito mais caro, seletivo e de prazos curtos

Resultado: o consumo ainda depende muito do crédito, mas este se tornou menos acessível e mais arriscado. O equilíbrio atual existe — mas é instável.

O que esperar do futuro?

Para que o crédito volte a ser um elemento de crescimento — e não de vulnerabilidade — será essencial:

✅ fortalecer a renda das famílias
✅ ampliar educação financeira
✅ estimular fontes alternativas de crédito com juros mais baixos
✅ reduzir a dependência do rotativo do cartão
✅ aumentar a resiliência financeira das classes de menor renda

Não basta apenas reduzir os juros: as famílias precisam recuperar sua capacidade de poupança e planejamento.

Conclusão

O período de 2017 a 2025 marca não apenas uma crise, mas uma transição. A pandemia rompeu um ciclo de estabilidade e inaugurou um novo cenário de crédito no Brasil — mais caro, mais seletivo e mais exigente em termos de organização financeira.

O grande desafio, agora, é reconstruir o equilíbrio entre acesso ao crédito, renda sustentável e inadimplência controlada. Só assim será possível garantir que o crédito siga apoiando a prosperidade das famílias e não se torne um fator permanente de insegurança econômica.

Conteúdo baseado em estudo de Flávio Ataliba Barreto, Pedro Avelino e João Mário Santos de França.

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