Política em Crise, Empresas em Alta: O Brasil que Resiste

Otimismo apesar de Brasília

O ambiente político conturbado pode até atrapalhar a economia, mas não impede a prosperidade das empresas

O atual cenário econômico está sendo influenciado por diversos fatores. Do exterior, podemos destacar as consequências de guerras militares e de disputas tarifárias. Internamente temos gastos públicos excessivos, carga tributária pesadíssima e juros nas alturas. Neste mar de incertezas, o empresariado precisa focar naquilo que é possível controlar: o seu próprio negócio.

A geopolítica internacional é comandada por personagens polêmicos (um eufemismo para malucos poderosos). O russo Vladimir Putin insiste na interminável guerra na Ucrânia enquanto o israelense Benjamin Netanyahu tenta controlar o barril de pólvora em que se tornou o Oriente Médio. No âmbito econômico, o americano Donald Trump dispara tarifas contra diversos países – o Brasil acaba de ser atingido com uma alíquota de 50%.

Neste artigo, no entanto, eu gostaria de focar nas nossas questões internas sobre as quais temos maior ingerência. O varejo brasileiro vive um momento desafiador com juros básicos na casa dos 15% ao ano, o maior patamar desde 2006. A taxa Selic é tão elevada que supera à adotada no auge da crise do Governo Dilma Rousseff.

O banco central não tem culpa

É importante salientar que a culpa não é do Banco Central. Os nossos governantes insistem em gastar mais do que arrecadam, gerando pressões cambiais e inflacionárias. Com índices de preços muito acima das metas estabelecidas, o Banco Central é obrigado a subir os juros enquanto o governo tenta aquecer artificialmente a economia.

Repare que o Brasil vive uma situação surreal na qual a política monetária é restritiva enquanto a política fiscal é expansionista. Imagine alguém acelerando um carro com o pé direito e, ao mesmo tempo, freando com o pé esquerdo. Acidente à vista…

O encarecimento do crédito tende a afetar mais o comércio de bens duráveis. O brasileiro, em sua maioria, costuma parcelar as compras de itens de maior valor como veículos, eletroeletrônicos, móveis e materiais de construção.

Consumidor x Juros

Com juros mais altos, as parcelas ficam mais gordas e podem não encaixar na renda do consumidor. Por ora, a solução encontrada pelos lojistas é alongar o financiamento de tal forma que a prestação mensal caiba no bolso dos clientes.

Por outro lado, o governo turbina a renda da população por meio de programas sociais e reajustes salariais acima da inflação. Não deixa de ser uma boa notícia para o comércio de bens de menor valor como alimentos, bebidas e roupas. Se tem renda, tem consumo.

Num cenário em que o crescimento das vendas é incerto, a melhor estratégica para preservar as margens é cuidar dos custos. Deveria estar no topo da lista de prioridades de qualquer empresa a tarefa de cortar despesas, melhorando o desempenho operacional. É o caminho mais seguro em tempos de pressões financeiras.

Para adicionar um pouco mais de turbulência ao atual cenário econômico, temos uma grave crise política. Executivo e Legislativo estão em pé de guerra. O Poder Judiciário resolveu governar no Brasil e, pasmem, entrou em conflito com os Estados Unidos.

Uma classe que não se rende

Felizmente, o empresariado brasileiro é PhD em superar crises. Tenho feito palestras econômicas no país inteiro e percebo que os líderes do setor privado já entenderam que é possível continuar crescendo apesar de Brasília.

Durante minhas apresentações, costumo lançar enquetes interativas para aferir o grau de otimismo dos empresários. Recentemente, em evento do Acelera Varejo, em São Paulo, perguntei a dezenas de empresários qual o plano de lojas para o seu negócio nos próximos 12 meses.

A despeito do cenário nebuloso, 55% disseram que pretendem expandir o número de lojas; apenas 13% pensam em redução. Dentre os que planejam ampliar, 64% disseram priorizar lojas de rua enquanto 36% pretendem focar em shoppings.

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Essa postura otimista vai ao encontro da minha convicção de que é o setor privado – e não o setor público – que faz o País crescer. Quando o empresário entende que as principais decisões estão nas suas próprias mãos e não dependem de nenhum carimbo de Brasília, a chance de sucesso aumenta bastante.

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Afinal de contas, o ambiente político conturbado pode até atrapalhar a economia, mas não impede a prosperidade das empresas.

Leia também: O segredo do varejo é a renda

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