O Mercado Livre acaba de dar um passo ousado rumo ao setor farmacêutico. A companhia, por meio da sua plataforma de entregas Kangu, comprou a Cuidados Farma, drogaria localizada no bairro do Jabaquara, em São Paulo, que pertence à healthtech Memed.
A farmácia é conhecida por estar conectada à plataforma de prescrição digital da Memed, referência no mercado médico, e tem como controladores os fundos Genoma IV e VII, da DNA Capital, segundo informações do portal Pipeline.
O Movimento do Mercado Livre no Setor de Saúde
Com essa movimentação, o Mercado Livre marca oficialmente sua entrada na comercialização de medicamentos. A operação, no entanto, ainda depende do sinal verde do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para ser concluída.
A gigante do e-commerce já vinha estudando maneiras de expandir seu portfólio para incluir a venda de medicamentos isentos de prescrição (MIPs), e essa aquisição sinaliza o início de uma estratégia robusta para disputar espaço em um mercado de bilhões.
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O que a digitalização das farmácias causa no mundo? Veja a situação na França
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Desde 2016, em média 120 pequenas farmácias encerram atividades por ano na França, especialmente em grandes cidades.
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O acesso a medicamentos, no entanto, não foi comprometido: redes maiores e mais competitivas têm ocupado o espaço deixado, com preços mais atrativos.
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A digitalização do consumo e a força do e-commerce, aceleradas pela pandemia, colocaram as farmácias francesas diante de concorrentes europeias já consolidadas no ambiente online.
📜 Regras atuais para a venda online de medicamentos
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A comercialização digital é permitida desde 2013, mas restrita a medicamentos sem prescrição.
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Apenas farmácias físicas, mutualistas e de socorro mineiro estão autorizadas a operar online.
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É vedada a venda virtual de remédios sob receita, inclusive por plataformas estrangeiras da UE.
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O farmacêutico deve assumir responsabilidade pelo site e manter o estoque próximo à farmácia física correspondente.
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Desde 2020, basta comunicar a abertura do e-commerce à autoridade de saúde (ARS), eliminando a necessidade de autorização prévia.
🔄 Transformações em curso
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A receita eletrônica (e-prescrição) será totalmente implementada até 31 de dezembro de 2024.
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O Dossier Médico Compartilhado (DMP) será integrado ao serviço “Mon espace santé”, permitindo melhor continuidade no atendimento.
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Essas medidas aproximam a farmácia do ecossistema digital de cuidados ao paciente.
📦 Oportunidades de expansão
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A França conta com uma das maiores densidades de farmácias do mundo (35 por 100 mil habitantes).
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O comércio eletrônico pode suprir lacunas em regiões rurais, onde o acesso é limitado.
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A digitalização também possibilita gestão mais eficiente de estoques e novas fontes de receita, inspirada no modelo “drive” dos supermercados.
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Integração da telemedicina nos pontos de venda, oferecendo consultas por vídeo diretamente na farmácia.
🛡️ Desafios regulatórios e de proteção de dados
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A transformação digital amplia o uso de dados sensíveis de saúde, altamente regulados pelo RGPD.
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O setor precisa investir em segurança e conformidade, já que multas podem chegar a 4% do faturamento anual.
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Ao mesmo tempo, o uso ético e estratégico dos dados pode se tornar um diferencial competitivo dentro do mercado de e-saúde.
Estados Unidos
Empresas como Amazon e Walmart vêm sacudindo o setor farmacêutico ao apostar em novos formatos de atendimento. Já é possível marcar consultas médicas virtuais e receber medicamentos em casa em poucas horas — em algumas cidades, até no mesmo dia.
No caso da Amazon One Medical, o modelo vai além: combina telemedicina, prescrição digital e entrega domiciliar em um ecossistema integrado que promete simplificar todo o ciclo do cuidado com a saúde.
⚖️ Tensões em alta
O avanço desse modelo não acontece sem atritos. As farmácias tradicionais relatam perda de clientes e maior pressão por preços competitivos. Pesquisas recentes indicam que os serviços digitais elevaram o nível de satisfação dos consumidores, enquanto muitas redes físicas sofrem com críticas por filas demoradas e dificuldade no acesso a medicamentos.
Há também um tema delicado: a confiança. Embora a maioria dos clientes afirme compreender as explicações fornecidas pelos farmacêuticos, pouco mais da metade declara confiar plenamente no atendimento presencial.
O caso do Canadá
No Canadá, a expansão das farmácias digitais enfrenta um cenário mais rigoroso de regulamentação.
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A comercialização online de medicamentos é permitida, mas cada província estabelece suas próprias regras.
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A maioria exige que a farmácia digital seja licenciada localmente e conte com farmacêuticos disponíveis para orientar os pacientes.
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Medicamentos controlados só podem ser comprados mediante receita válida emitida por médicos autorizados no país.
Esse controle severo gera polêmicas, principalmente em relação à importação de medicamentos mais baratos dos EUA. Muitos consumidores canadenses recorrem a essa alternativa, mas autoridades alertam para riscos de falsificação e ausência de controle de qualidade. Além disso, farmácias estrangeiras sem licença canadense já enfrentaram bloqueios e processos judiciais.
🔍 Questões que dividem opiniões
O debate sobre o futuro das farmácias digitais gira em torno de quatro pontos principais:
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Segurança do paciente – risco de automedicação sem a supervisão necessária.
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Concorrência – redes físicas acusam grandes plataformas de praticarem preços predatórios.
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Acesso – defensores afirmam que a digitalização amplia a cobertura, sobretudo em áreas remotas.
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Privacidade – proteção de dados de saúde aparece como prioridade, com exigências legais cada vez mais rígidas.
Alemanha
Na Alemanha, é totalmente possível comprar medicamentos pela internet — inclusive aqueles que exigem prescrição médica. Para esses casos, no entanto, é obrigatório apresentar uma receita válida emitida por um profissional de saúde. O país adota regras bastante rígidas no setor farmacêutico, e por isso alguns remédios que em outros lugares são vendidos sem receita podem requerer prescrição em território alemão.
Escolha de uma farmácia online confiável
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Confirme a autorização: apenas farmácias licenciadas pela União Europeia podem atuar legalmente na venda digital de medicamentos.
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Prefira plataformas reconhecidas: portais como Shop-Apotheke e DocMorris estão entre os mais utilizados e oferecem segurança no processo de compra.
O avanço das farmácias online na Europa
O comércio eletrônico de medicamentos cresce de forma consistente em toda a Europa, mas os modelos regulatórios variam bastante de país para país. Enquanto mercados como Alemanha, Países Baixos e os países nórdicos permitem a venda online de todos os tipos de medicamentos — inclusive aqueles que exigem receita médica —, nações como França, Itália e Espanha restringem a atividade apenas aos produtos de venda livre (OTC).
Na França, mesmo com uma regulamentação mais conservadora, o hábito de comprar online se intensifica. Esse movimento pressiona as farmácias físicas, que têm buscado se diferenciar por meio de serviços personalizados, como maior atenção no aconselhamento e acompanhamento dos pacientes.
Panorama do mercado europeu
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Crescimento acelerado: O e-commerce farmacêutico avança rapidamente, impulsionado pela digitalização do consumo e pelos novos hábitos formados durante a pandemia.
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Modelos distintos: Não há um padrão único. Alguns países liberam totalmente a venda online de medicamentos, enquanto outros mantêm restrições severas.
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Liderança alemã: A Alemanha se destaca como o maior mercado do setor, com players de peso como a Shop Apotheke Europe, referência no comércio eletrônico farmacêutico.
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Desafios para o setor: Conciliar conveniência, segurança dos produtos e qualidade no atendimento ao paciente é essencial. Isso força tanto plataformas digitais quanto farmácias tradicionais a investir em inovação.
Regulamentação e perspectivas futuras
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Diretriz europeia: A Diretiva 2011/62/UE estabeleceu as bases para regulamentar a venda de medicamentos online nos países-membros, criando um marco comum mínimo.
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Discussão sobre abertura: Empresas do setor pressionam a Comissão Europeia a autorizar também a comercialização digital de medicamentos com prescrição, o que poderia transformar radicalmente o mercado.
Fique ligado no AV, pois vamos continuar acompanhando os passos desse tema que é tão importante e com certeza trará muitos desdobramentos.