O crescimento das bets — as plataformas de apostas online — está alterando não apenas o comportamento financeiro dos brasileiros, mas também a forma como eles consomem. De acordo com um levantamento recente da Kantar, cerca de 13% do valor que antes era destinado à alimentação e bebidas foi redirecionado para apostas virtuais durante o segundo trimestre de 2025.
O impacto direto nas compras de supermercado
Esse redirecionamento de gastos tem sido sentido especialmente no setor varejista alimentar. Segundo Leandro Rosadas, especialista em gestão de supermercados, a tendência vem preocupando empresários do ramo.
“O dinheiro que está sendo usado nas apostas seria, em grande parte, destinado a produtos essenciais e também a itens de maior valor agregado. Isso afeta diretamente a rentabilidade dos supermercados, pois reduz a venda de produtos com margens mais altas, como bebidas alcoólicas, iogurtes e biscoitos”, explica Rosadas.
O resultado é perceptível: consumidores estão comprando menos itens básicos e também reduzindo o consumo de produtos considerados supérfluos, o que amplia o impacto sobre a lucratividade do setor.
Um mercado bilionário em ascensão
De acordo com o Ministério da Fazenda, as bets movimentaram R$ 17,4 bilhões no Brasil apenas nos primeiros seis meses de 2025, com cerca de 17,7 milhões de brasileiros participando ativamente das plataformas.
A previsão é que o setor atinja um faturamento de R$ 22 bilhões até o final do ano, colocando o país na quinta posição mundial no mercado de apostas, atrás apenas dos Estados Unidos, Reino Unido, Itália e Rússia — segundo dados da consultoria Regulus Partners.
Rosadas alerta que, embora os preços dos alimentos estejam mais estáveis, os consumidores continuam relatando a sensação de “gastar muito e levar pouco”. Parte disso se deve à migração de recursos para jogos e aplicativos que prometem recompensas financeiras rápidas, especialmente entre as classes C, D e E.
“Quem está em situação apertada acaba vendo as apostas como uma forma de renda extra, mesmo que ilusória. Isso cria um ciclo que impacta diretamente o consumo nos supermercados”, comenta o especialista.
Novos hábitos de consumo e a ascensão das marcas próprias
A pesquisa também revelou um comportamento interessante: os brasileiros estão diversificando suas compras, com um crescimento de 10% no número de marcas consumidas. Com o orçamento mais apertado, o consumidor está mais estratégico, buscando equilibrar qualidade e preço.
“As marcas próprias dos supermercados têm ganhado cada vez mais espaço. Elas oferecem boa qualidade e preços mais acessíveis, o que faz grande diferença no total das compras — principalmente para famílias maiores”, observa Rosadas.
Essa tendência representa uma oportunidade para o varejo alimentar se reinventar, investindo em linhas próprias e fortalecendo a percepção de valor junto ao público.
Supermercados precisam reagir com estratégia
Para Leandro Rosadas, ações de conscientização sobre o uso excessivo das bets e programas de fidelidade atrativos podem ajudar a reconquistar o consumidor. Ele destaca que ofertas, cashback, descontos e prêmios são ferramentas eficazes para estimular a recompra e criar vínculo com o cliente.
“Além de promoções acessíveis, os supermercados precisam investir em uma estratégia de marketing consistente — com presença digital, campanhas segmentadas e bom atendimento. Tudo isso ajuda a gerar engajamento e aumentar o fluxo nas lojas”, conclui o especialista.
Conclusão sobre as apostas online
O avanço das apostas online é um reflexo direto das mudanças no comportamento do consumidor brasileiro. Embora o setor de bets movimente bilhões, o impacto sobre o varejo alimentar acende um alerta: é hora de repensar estratégias para manter a competitividade e reconquistar o espaço no orçamento das famílias.
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