Vamos falar do tarifaço? A relojoaria suíça — símbolo global de precisão, luxo e tradição — acaba de enfrentar um dos maiores choques comerciais da última década. Em setembro de 2025, as exportações do setor caíram 3,1% em relação ao mesmo mês do ano anterior, somando 2 bilhões de francos suíços. O maior impacto veio justamente do mercado que por anos foi o mais importante para o país: os Estados Unidos.
Quando uma tarifa muda o jogo
Desde agosto de 2025, produtos suíços vendidos nos EUA passaram a pagar uma tarifa de 39%. O efeito foi devastador e imediato: as remessas de relógios ao mercado americano despencaram 55,6%, caindo para 157 milhões de francos. Com isso, os EUA perderam o posto de principal destino da relojoaria suíça, ficando atrás do Reino Unido e do Japão.
Sem a tarifa, a Federação da Indústria Relojoeira Suíça (FH) afirma que o setor teria registrado um avanço de 7,8% no mês — um cenário totalmente oposto ao que se concretizou.
Picos artificiais antes da queda
A iminência da tarifa distorceu o fluxo normal de exportações. Nos meses anteriores, marcas aceleraram envios para abastecer estoques e evitar pagar mais imposto:
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Abril: +149% nas exportações aos EUA
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Julho: +45%
Esses números inflados não refletiam um aumento real de demanda, mas apenas uma corrida contra o tempo.
Mesmo com o tombo recente, o acumulado dos EUA no ano ainda é positivo (+10,4%), com 3,5 bilhões de francos exportados entre janeiro e setembro. Porém, o impacto global já é sentido: recuo de 1,2% do setor no ano (19 bilhões de francos).
Consumo em transformação: quem cresce e quem perde espaço
Enquanto os Estados Unidos puxaram a queda, a Ásia mostrou resiliência:
| Mercado | Variação em setembro |
|---|---|
| Hong Kong | +20,6% |
| Singapura | +8,3% |
| China | +17,8% |
Mas no acumulado do ano, muitos desses destinos seguem com números negativos, sobretudo China (–16,3%) e Japão (–6,5%).
Outro ponto de atenção é a mudança no perfil do consumidor:
| Faixa de preço | Variação |
|---|---|
| Até 500 CHF (entrada) | –15,6% |
| 500 a 3.000 CHF (premium) | +4,2% |
| Acima de 3.000 CHF (luxo) | –3,4% |
A categoria premium é a única que cresce, indicando um deslocamento do interesse do consumidor — que ainda quer qualidade, mas está mais cauteloso com o alto luxo.
Indústria em alerta: o que muda agora?
A tarifa americana não afetou apenas volumes de exportação: ela está forçando uma revisão estratégica profunda dentro da cadeia relojoeira — da precificação à maneira como marcas distribuem e gerem seus estoques.
Os líderes da indústria já começaram a reagir:
Nick Hayek, CEO da Swatch Group
“Produzimos tudo na Suíça e temos custos elevados. Uma tarifa de 39% não pode ser absorvida. Os preços vão subir com certeza.”
Ele confirmou que antecipar estoques ajudou a amortecer o impacto imediato.
Georges Kern, CEO da Breitling
“Se a situação não se resolver nos próximos três meses, teremos de aumentar preços — nos EUA e em outros mercados também.”
Instituições acadêmicas também ligaram o sinal de alerta. A IMD Business School destaca que o setor entrou em um momento de inflexão estratégica, exigindo mais resiliência e inovação dos modelos de negócio tradicionais.
O futuro dos relógios suíços
A imposição tarifária expôs um risco que há tempos se ignorava: a dependência de poucos mercados-chave. Mais do que números negativos, ela evidencia a necessidade de:
✅ diversificação geográfica
✅ revisão de preços e margens
✅ modernização de canais
✅ fortalecimento de valor e diferenciação
Enquanto marcas reajustam estratégias para enfrentar a tempestade, consumidores e concorrentes observam atentamente. O desfecho dessa disputa comercial pode redefinir o mapa global do luxo nos próximos anos.
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