Vivemos em tempos de algoritmos, bolhas de informação e timelines personalizadas. O que aparece para mim pode nunca cruzar a tela de outra pessoa — mesmo que estejamos no mesmo país, no mesmo bairro ou até na mesma casa.
Recentemente, me peguei refletindo sobre isso ao notar como alguns eventos de grande porte, que pareciam “inescapáveis” na minha bolha digital, passaram quase despercebidos por fora dela.
A final de Roland Garros foi um desses casos. Para mim, foi um evento marcante, digno de atenção. O mesmo vale para o Mundial de Clubes, que está prestes a acontecer. No entanto, ao sair do meu circuito de interesses e conversar com outras pessoas, percebi que muitos nem sabiam que esses eventos estavam acontecendo.
A influência da mídia na construção do “interesse coletivo”
A pergunta que surgiu foi inevitável: o quanto do que nos interessa é realmente nosso? E o quanto é influência da mídia e dos canais que seguimos?
Essa questão vai além da curiosidade. Ela toca em um ponto central da forma como consumimos informação e moldamos nossos gostos. Tomemos o UFC como exemplo. Durante o período em que era transmitido pela Globo, era impossível escapar das lutas e dos lutadores.
O tema estava nos noticiários, nas redes sociais, nas conversas de bar. Mas bastou a transmissão mudar de emissora — e, com isso, sair da chamada “grande mídia” — para que o assunto desaparecesse do radar de muita gente.
Exposição x Interesse genuíno: como retomar o controle da sua atenção
O que isso revela? Que o interesse coletivo muitas vezes é uma construção. Aquilo que a mídia escolhe destacar — seja por audiência, contratos comerciais ou linha editorial — molda o que parece importante para o público. E, por consequência, influencia também o que cada indivíduo passa a considerar relevante.
Essa constatação não é necessariamente negativa, mas é um convite à reflexão. Estamos de fato interessados em algo, ou apenas fomos expostos àquilo com tanta frequência que passamos a achar que sim? A resposta pode variar, mas vale manter a consciência de que a exposição molda a percepção.
E, talvez, seja esse o primeiro passo para reconquistar algum controle sobre o que realmente queremos acompanhar.