*Por Julio Amorim, CEO da Great Group, especialista em planejamento e autor do livro “Escolha Vencer: Criando o Hábito de Conquistar Sonhos e Objetivos”
O mercado brasileiro vive um paradoxo difícil de ignorar. Em meio a escândalos corporativos e quebras de confiança, ainda convivemos com relatórios de auditoria assinados por gigantes do mercado que validam práticas que se mostram frágeis mais tarde. E ainda assim, empresas seguem pagando milhões para manter a chancela dessas marcas globais, como se prestígio importado fosse sinônimo de verdade.
É nesse cenário que surge uma reflexão inevitável: até quando a consultoria brasileira será subestimada, mesmo quando demonstra maior capacidade de leitura, proximidade com a realidade e coragem para apontar o que precisa ser corrigido?
Casos recentes ilustram o problema com clareza. O próprio relatório de auditoria independente da KPMG para o Banco Master, que apresenta opinião formal sobre práticas contábeis, riscos relevantes, controles internos e instrumentos financeiros, segundo normas do Banco Central, CPCs e IFRS, mostra como grandes firmas continuam exercendo papel central na validação de conformidade.
Esses documentos, que detalham provisões, carteira de crédito, mensuração de instrumentos financeiros, ativos fiscais diferidos e até a análise de continuidade operacional, seguem sendo interpretados como sinônimo automático de segurança.
No entanto, a recorrência de situações em que avaliações tão completas deixam de antecipar fragilidades reais deveria servir como alerta. Vale enfatizar que o mercado insiste em um modelo no qual a assinatura dessas auditorias prevalece sobre a capacidade analítica de consultorias brasileiras que vivem o contexto local com muito mais profundidade.
Profissionais e empresas brasileiras que se dedicam a entregar valor enfrentam um duplo desafio. Precisam se provar continuamente, trabalhar acima do esperado e, por vezes, abrir mão de contratos quando percebem que sua participação não resultará no impacto necessário.
A renúncia a um contrato milionário para preservar propósito, coerência e integridade deveria ser celebrada como um ato de maturidade empresarial, mas muitas vezes se transforma em motivo de julgamento. Parece que vivemos em uma cultura que enxerga mais bravura na manutenção de aparências do que na defesa da verdade técnica.
Essa realidade chama à responsabilidade todos os que compõem conselhos, comitês e espaços de influência na tomada de decisão. Somos nós que recomendamos, orientamos e validamos caminhos estratégicos. E talvez seja este o momento de quebrar paradigmas.
O Brasil já formou uma geração de consultores altamente qualificados, com experiência prática, visão sistêmica e profundo entendimento das realidades nacional e regional. O que falta não é competência, mas espaço para que ela seja reconhecida como equivalente ou superior àquela importada.
Valorizar a consultoria brasileira não significa negar a importância do conhecimento internacional ou da diversidade de perspectivas. Significa reconhecer que reputação não pode ser tratada como um prêmio exclusivo de empresas estrangeiras. Reputação se constrói no compromisso diário com o resultado, na coragem de discordar quando necessário, na busca consistente por integridade e na capacidade de enxergar o que muitos preferem ignorar.
Se queremos empresas mais fortes, decisões mais inteligentes e uma cultura empresarial mais madura, é hora de rever nossos critérios de confiança. O país conta com consultores preparados, éticos e conscientes de seu papel. Eles têm a vivência, a proximidade e a coragem necessárias para evitar que erros se repitam e para ajudar organizações a caminhar com mais lucidez e menos riscos.
Já é tempo de parar de enxergar a consultoria brasileira como alternativa e começar a tratá-la como referência.
*Julio Amorim é CEO da Great Group, especialista em planejamento e autor do livro “Escolha Vencer: Criando o Hábito de Conquistar Sonhos e Objetivos”. – E-mail: julioamorim@nbpress.com.br.
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