Mudanças nos vouchers podem reduzir custos e impulsionar o foodservice no Brasil

Mudanças nos vouchers podem reduzir custos e impulsionar o foodservice no Brasil

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As recentes atualizações anunciadas pelo governo federal para o vale-alimentação e o vale-refeição reacenderam o debate sobre o papel dos vouchers no foodservice brasileiro. Para muitos operadores, especialmente aqueles mais dependentes do consumo corporativo, as mudanças chegam em um ponto decisivo para o setor.

Segundo Simone Galante, fundadora e CEO da GALUNION, o momento é de verdadeira encruzilhada. “Os operadores estão pressionados por custos operacionais crescentes ao mesmo tempo em que atendem um consumidor muito sensível a preços. As novas regras podem dar o fôlego que bares e restaurantes precisam, sobretudo os de serviço rápido, que historicamente contam mais com o benefício corporativo”, afirma.

Um setor em transformação acelerada

A GALUNION acompanha há mais de dez anos as movimentações do mercado de vouchers e observou uma mudança profunda no comportamento de pagamento dos consumidores. A pesquisa “Alimentação hoje: a visão dos operadores de estabelecimentos de foodservice” revela que, em 2020, cerca de 26% do faturamento dos operadores vinha dos vouchers. Quatro anos depois, em 2024, essa participação caiu para 12%.

Essa queda não aconteceu por acaso. Um dos principais fatores é o avanço das soluções digitais de pagamento. O PIX, por exemplo, passou a representar 15% do faturamento do setor em 2024, reduzindo consideravelmente a relevância dos vouchers como meio de pagamento. “A digitalização foi muito rápida, e o consumidor adotou novos hábitos com agilidade”, destaca Simone.

Mudanças no hábito alimentar e no consumo corporativo

Além da digitalização, a pandemia deixou marcas profundas na rotina de alimentação dos brasileiros. A popularização das marmitas feitas em casa e a reorganização do fluxo de trabalho — com mais home office e modelos híbridos — alteraram o tradicional pico do uso do vale-refeição no horário de almoço nas áreas corporativas.

Ao mesmo tempo, o crescimento do delivery modificou a dinâmica de faturamento dos restaurantes. Como as vendas passam diretamente pelas plataformas, muitos estabelecimentos deixaram de depender dos vouchers.

Outro fator relevante é econômico: as taxas cobradas pelas operadoras de benefícios e os longos prazos de repasse tornaram o uso do voucher pouco vantajoso para diversos restaurantes. “Com margens tão apertadas, cada ponto percentual pesa. Muitos operadores passaram a desencorajar o uso do benefício porque simplesmente não fechava a conta”, explica a CEO da GALUNION.

Impactos diferentes para cada modelo de operação

Os números da pesquisa mostram um cenário dividido entre os formatos de serviço. Em 2024:

  • 38% dos restaurantes de serviço completo têm menos de 10% do faturamento vindo de vouchers.

  • No serviço rápido, a realidade é oposta: 43% dos operadores concentram entre 11% e 20% do faturamento no uso desses benefícios.

É justamente este último grupo que deve sentir os efeitos positivos das novas regras primeiro. Restaurantes de self-service e operações próximas a polos corporativos foram fortemente afetados nos últimos anos e lidam diariamente com consumidores em busca de preços mais acessíveis.

Consumidor mais econômico e oportunidade de reequilíbrio

A edição mais recente da pesquisa da GALUNION, realizada em agosto de 2024, confirma o cenário: 52% dos consumidores afirmam priorizar opções mais econômicas. A busca por ofertas e preços que “caibam no bolso” se tornou dominante.

Para Simone Galante, essa combinação — consumidores mais atentos ao preço e redução de custos operacionais por causa das mudanças nos vouchers — pode estimular uma retomada gradual da relevância do benefício.

“Estamos diante de uma oportunidade de reequilibrar o ecossistema. Se as novas regras realmente reduzirem custos e ampliarem o poder de compra do trabalhador, o setor pode entrar em um novo ciclo. Depois de uma década de queda, talvez este seja o início da reconstrução da importância dos vouchers no foodservice”, conclui.

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