No setor varejista brasileiro, há uma movimentação crescente no alto escalão corporativo. Estudos recentes apontam que mais de 30% das grandes varejistas trocaram de CEO entre 2021 e 2025 — uma média anual de aproximadamente 7,5%.
Este indicador reflete não apenas uma oscilação de nomes, mas uma dinâmica de pressão por resultados, adaptação acelerada e necessidade de renovação da liderança.
O que dizem os números
De acordo com levantamento da consultoria Flow Executive Finders, que analisou 102 empresas dos principais segmentos do varejo nacional (alimentação, moda e calçados, eletroeletrônicos, drogarias), alguns dados se destacam:
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No segmento de supermercado, 66,7% das empresas analisadas mudaram de CEO no período.
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Atacarejo e eletroeletrônicos registraram taxas de 50%. Moda e calçados registrou 35,7%.
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Empresas listadas em bolsa apresentaram maior volatilidade: 47,2% registraram ao menos uma troca de CEO, contra 23,3% em companhias de capital fechado.
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Tempo médio de permanência dos CEOs: 5,6 anos em empresa aberta, 12,7 anos em empresa fechada.
Por que isso está acontecendo
Esse fenômeno de rotatividade elevada está ligado a vários fatores convergentes no momento do varejo:
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Pressão por resultado rápido – A competitividade do setor aumenta, margens se comprimem e acionistas/boards exigem que o CEO entregue performance ou mude. A análise da Flow evidenciou que o varejo listado tem menos “colchão” para experimentação.
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Transformação e disrupção aceleradas – Modelos de negócio que antes eram estáveis (loja física + catálogo) estão sendo revisitados, com e-commerce, novas plataformas, dados do cliente, IA, etc. Essa exigência de adaptação pode demandar perfis novos de liderança.
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Ambiente macroeconômico desafiador – Juros elevados, inflação, crédito restrito, mudanças no comportamento do consumidor. Isso pressiona os gestores a reagir mais rapidamente, o que pode significar trocas de liderança quando o resultado não aparece.
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Governança mais ativa – Conforme observações de consultorias, os conselhos têm menos tolerância a CEOs pouco alinhados ou “sem agenda de mudança”. A transição para um modelo de liderança mais orientado à digitalização, eficiência e experiência do cliente exige novos perfis.
As consequências para o varejo
Essa rotação traz implicações práticas para as empresas do setor:
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Custos de transição – Trocar de CEO envolve não só a remuneração do novo executivo mas o custo de reestruturação, curva de aprendizado, possível mudança de estratégia ou cultura.
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Perda de continuidade – Projetos de médio/longo prazo podem sofrer interrupções ou revés quando há mudança de liderança. Isso pode impactar iniciativas de transformação digital, reorganização de canais ou inovação.
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Sinal para o mercado – Uma empresa que troca seu CEO frequentemente pode gerar percepção de instabilidade, o que pode afetar credibilidade perante investidores, fornecedores ou mesmo talentos.
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Oportunidade de renovação – Por outro lado, para organizações que estão “presas” num ciclo de baixo crescimento ou que ainda não conseguiram se reinventar, a troca de liderança pode ser o catalisador para novas abordagens — seja de tecnologia, de cultura ou de modelo de negócio.
O que isso significa para a moda e varejo no Brasil
No seu contexto — trabalhando com expansão varejista no setor de moda no Brasil — esse movimento de liderança oferece tanto alertas quanto oportunidades:
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Alerta: Empresas de moda que não adaptarem modelos de venda, logística, experiência omnicanal ou que ficarem presas em estruturas tradicionais podem ver um “ponto de ruptura” e buscarão novos CEOs que tragam essa inovação.
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Oportunidade: Se sua atuação tem foco em conteúdo estratégico, essa turbulência de liderança pode abrir espaço para consultoria, apoio a sucessão, mentoring de novos perfis de liderança, ou ainda mapeamento de talentos preparados para essa nova era no varejo de moda.
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Reflexão para você: Qual será o perfil ideal de CEO para varejo de moda no Brasil nos próximos 5 anos? Quem tem experiência em digital + físico, sabe trabalhar com dados de cliente, entende logística invertida, tem mindset ágil? Empresas de capital aberto ou em crescimento podem estar procurando exatamente esse tipo de executivo — e isso conecta à necessidade de posicionamento e rede de relacionamento.
Caminhos a considerar
Para as empresas (e para quem atua no ecossistema de moda/varejo) vale pensar em:
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Estabelecer planejamento sucessório claro — para que a troca, se for necessária, não seja repentina e cause descontinuidade.
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Definir e comunicar o que o novo líder precisa entregar nos primeiros 100 dias — metas claras, foco em mudança, alinhamento com os indicadores que o conselho vai observar.
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Trabalhar a cultura de adaptação — a nova geração de consumidores, canais e plataformas exige que a empresa esteja aberta à experimentação, mas com ritmo e metodologia.
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Mapear talentos internos e externos que tenham perfil híbrido (digital + varejo físico) — muitas lideranças tradicionais vêm do modelo “loja, estoque, logística”, mas talvez faltem competências de dados, e-commerce, inovação.
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Monitorar métricas de liderança: permanência média de executivos, rotatividade, satisfação da equipe de liderança, aderência à estratégia digital — indicadores que ajudam a antecipar “risco de transição”.
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