“Agora tem mais mulher do que homem em todas as regiões do Brasil”. Pronto, bastou isso para pipocarem piadas sobre “a derrota dos homens”, teorias de masculinidade em crise, apelos à repopulação, mas quase ninguém se perguntou por quê isso está acontecendo.
O suposto desequilíbrio entre os gêneros é um tema que sempre rende notícias, como se estivéssemos a caminho da terra da Mulher-Maravilha, Temiscira, um lugar povoado apenas por mulheres.
Quem sabe nos dividindo em dois planetas, como no livro Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus, de John Gray, que inspirou a peça e filme Os Homens São de Marte… E É Pra Lá Que Eu Vou (2014).
Dessa vez, o IBGE trouxe um destaque, até a Região Norte, historicamente uma fortaleza demográfica masculina, virou o jogo e passou a ter mais mulheres do que homens.
Se olharmos mais de perto, esse dado esconde menos um drama de gênero e mais um sinal dos tempos: o Brasil está envelhecendo.
A inversão demográfica
Segundo o Censo 2022, as mulheres representam 51,5% da população brasileira. Isso dá algo como 6,3 milhões a mais do que os homens.
Não é que estejam nascendo mais meninas, na verdade, nascem cerca de 105 meninos para cada 100 meninas, como é biologicamente habitual no mundo todo.
E como terminamos num cenário de mais mulheres?
Por conta de um duplo abismo masculino:
- Violência e acidentes: homens jovens são desproporcionalmente vítimas de causas externas. Motos, armas de fogo, álcool, riscos assumidos com gosto — tudo isso faz parte de um roteiro masculino que cobra seu preço cedo.
- Autocuidado em falta: os homens vão menos ao médico, detectam doenças mais tarde e morrem de causas evitáveis mais cedo. A famosa “masculinidade tóxica” tem também um lado silencioso: ela mata por dentro.
O resultado aparece com nitidez quando se desenham os gráficos etários. Até os 19 anos, eles ainda lideram, a partir de 25 anos, as mulheres ultrapassam, e nunca mais perdem a liderança.
Grandes cidades, grandes diferenças
Os números se tornam ainda mais expressivos nas metrópoles. Em cidades com mais de 500 mil habitantes, há apenas 88,9 homens para cada 100 mulheres, isso não é detalhe estatístico, é mudança estrutural.
O Rio de Janeiro, por exemplo, já tem quase 53% de mulheres, não por um fenômeno de migração, mas por longevidade: onde há mais idosos, há mais mulheres.
E isso nos leva à virada de chave que poucos perceberam: ter mais mulheres não é só uma questão de gênero, é uma questão de envelhecimento da população.
Porque se elas vivem, em média, sete anos a mais do que eles, então o simples acúmulo do tempo vai alargando a pirâmide etária no lado feminino.
Então, que fique claro, toda vez que uma população tem mais mulheres, esse é um indicador de perfil etário mais avançado.
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