Durante décadas, a moda nacional foi guiada por um eixo tradicional: lançamentos centralizados nas capitais, tendências ditadas por passarelas distantes do cotidiano e um olhar voltado quase exclusivamente aos grandes centros urbanos. Esse modelo, no entanto, está em transformação. A nova força criativa da moda brasileira surge longe de São Paulo e do Rio de Janeiro, em cidades médias que hoje concentram consumo, produção e conexão direta com o cliente final.
Segundo o estudo IPC Maps 2025, mais de 55% do consumo brasileiro já acontece fora das capitais. As regiões metropolitanas respondem por cerca de 45% do mercado, e as capitais, isoladamente, por apenas 27%. Esse deslocamento do poder de compra ajuda a explicar por que negócios nascidos em polos regionais ganham escala e influência — casos como o da AKR Brands, de Londrina (PR), que vem consolidando um modelo alternativo de crescimento no setor.
“A lógica do mercado se inverteu. Antes, as marcas surgiam nas capitais e expandiam para o interior. Hoje, o caminho é o oposto: quem nasce próximo da base consumidora parte com vantagem”, explica Allan Soares, CEO da AKR Brands.
A holding paranaense, dona das marcas King&Joe, King&Joe Play e K&J Black, é um exemplo claro dessa virada. Criada por empreendedores locais, a empresa iniciou sua trajetória com moda masculina voltada ao público adulto e infantojuvenil. Atualmente, está presente em mais de 2.500 cidades brasileiras, opera uma fábrica de 10 mil m² e projeta R$ 120 milhões em faturamento para 2025.
AKR Brands: Um Case de Interiorização da Moda Brasileira
Mas os números contam apenas parte da história. O que realmente diferencia a AKR é o modelo de atuação: em vez de apostar em lojas-conceito ou campanhas centralizadas, a marca optou por fortalecer uma rede multimarcas pulverizada, profundamente conectada ao comportamento de consumo regional. Essa presença descentralizada, especialmente nas cidades médias do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, se tornou um ativo estratégico.
A empresa também vem ampliando seus investimentos em estrutura, tecnologia e inovação. Sua fábrica própria é capaz de produzir até 2 milhões de peças por ano, mantendo a flexibilidade necessária para testar novos produtos em ciclos curtos, com feedback direto do varejo. O crescimento inclui ainda uma frente digital robusta: o e-commerce deve representar 15% da receita até 2028, impulsionado por melhorias logísticas e tecnológicas.
“O varejo é nosso principal termômetro. É no ponto de venda que entendemos o comportamento do cliente, testamos novidades e ajustamos estratégia. E a maioria desses pontos está fora das capitais — por escolha, não por acaso”, reforça Soares.
Para empresas como a AKR, a descentralização é uma decisão estratégica. O foco não está em disputar espaço nas avenidas mais caras do país, mas em construir capilaridade e relevância a partir das bases regionais. “Criamos nossa própria lógica de crescimento. Não começamos grandes, nem com investidores. Nosso diferencial é a consistência — e o interior oferece o ambiente ideal para crescer com profundidade e proximidade do cliente”, conclui o CEO.
O Futuro da Moda Brasileira: Regional é o Novo Global
Esse novo mapa da moda brasileira reflete transformações mais amplas da economia nacional. Assim como ocorre em setores como o agronegócio, o varejo alimentar e a tecnologia, a moda também vive um processo de descentralização estrutural. A digitalização e a mudança no perfil dos consumidores têm favorecido marcas menos concentradas geograficamente, mas mais sintonizadas com a vida real.
Ao consolidar operações fortes a partir de cidades médias, empresas como a AKR ajudam a redefinir o eixo de valor da moda brasileira. De um mercado historicamente centralizado nas capitais, o setor passa a ser influenciado por modelos que nascem próximos do consumo real — e que, por essa razão, estão começando a ditar os rumos da indústria.
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