Recentemente, tive a oportunidade de assistir a um jogo de beisebol nos Estados Unidos. Mais do que observar o jogo em si, algo me chamou atenção de forma muito mais profunda: a dinâmica da torcida.
Enquanto acompanhava as reações da arquibancada, comecei a refletir sobre algo que vai além do esporte — uma conexão direta com modelos de liderança e cultura organizacional nas empresas.
O comando vem de fora
Nos jogos de beisebol (assim como no basquete e futebol americano), a torcida parece reagir quase exclusivamente aos estímulos vindos do telão. “Grite!”, “Aplausos!”, “Vamos lá!”. O envolvimento coletivo acontece, mas a iniciativa parte de fora. Existe um comando explícito para que o público reaja.
É uma experiência quase programada. Eficiente, bem estruturada, pensada para o conforto e entretenimento da família: alimentação variada, ativações de marca, organização impecável. Tudo pensado para gerar um espetáculo completo.
Mas há algo que não acontece por ali: a espontaneidade da multidão.
No futebol, a arquibancada lidera
O contraste com o futebol — especialmente o brasileiro — é gritante. A torcida de futebol não espera comando. Ela cria, canta, provoca, empurra. A energia é orgânica. A arquibancada assume o papel de protagonista, mesmo sem um líder formal.
É quase uma liderança difusa, coletiva, que surge do instinto e se alimenta da emoção do momento. A cultura do futebol tem como base a autonomia energética da comunidade.
Essa diferença me fez pensar: e nas empresas?
Beisebol ou futebol: qual modelo estamos seguindo?
Nos esportes americanos, o padrão é claro: alguém lidera, os demais seguem. É o modelo tradicional de liderança: centralizada, orientada por comandos claros, com pouca margem para a ação espontânea.
No futebol, temos outro tipo de força. Uma espécie de liderança distribuída, onde a ação surge de baixo para cima. Ninguém precisa dizer o que fazer — a própria cultura do grupo conduz.
E no mundo dos negócios, qual desses modelos estamos praticando?
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Estamos formando equipes que só se movem mediante ordem direta?
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Ou estamos construindo ambientes onde as pessoas sentem autonomia para agir, propor, empurrar o time adiante — mesmo sem comando?
Qual modelo faz mais sentido para o futuro?
Em um mundo que exige inovação constante, agilidade e respostas rápidas, depender exclusivamente de um líder central pode ser um risco. Modelos baseados em comando e controle tendem a ser mais lentos, menos adaptáveis.
Por outro lado, fomentar uma cultura de protagonismo coletivo — como nas arquibancadas do futebol — pode gerar times mais engajados, resilientes e criativos.
A grande lição que tirei assistindo ao jogo de beisebol é esta:
A forma como organizamos a participação e a liderança nos esportes reflete muito da nossa visão de cultura organizacional.
E talvez seja hora de perguntar: Estamos jogando beisebol ou futebol dentro da nossa empresa?