Da busca à conversação: como as IAs estão redefinindo o comportamento do consumidor — e o que isso exige das marcas

Da busca à conversação: como as IAs estão redefinindo o comportamento do consumidor — e o que isso exige das marcas

Sua marca está pronta para conversar com uma IA?

Nos últimos anos, aprendemos a jogar o jogo dos buscadores. O consumidor digitava uma pergunta no Google, tipo “melhor hidratante para pele oleosa”, e recebia uma lista de links. A missão das marcas era aparecer entre os primeiros.

Isso gerou todo um mercado: agências especializadas, estratégias de SEO, palavras-chave, e um sistema de mídia onde se paga mais caro para aparecer em certos lugares da tela. Esse modelo criou uma lógica de investimento em mídia baseada em “onde” sua marca aparece. O topo da busca custava mais. Isso definiu estratégias, orçamentos e até como os sites foram desenhados.

Mas tudo isso está mudando, e os números comprovam.

A revolução silenciosa já começou

O Brasil está na vanguarda dessa transformação. Segundo pesquisa global do Google e Ipsosrealizada com 21 mil pessoas em 21 países, 54% dos brasileiros já utilizaram IA generativa em 2024, superando a média mundial de 48%. Cada vez mais pessoas estão trocando o buscador pela conversa com uma Inteligência Artificial. Ao invés de digitar no Google, elas abrem o ChatGPT, o Perplexity ou o Gemini e perguntam direto:

“Qual a melhor rotina de skincare para quem mora em uma cidade quente e tem pele sensível?” E esperam uma resposta pronta, sem precisar abrir dez abas. A IA lê conteúdos, organiza o que faz sentido e responde de forma direta, como se fosse um conselheiro pessoal.

O mercado já sente esse impacto: a Juniper Research projeta que os serviços de IA conversacional vão gerar US$ 23 bilhões em receita mundial em 2027, um crescimento de 58% comparado aos US$ 14,6 bilhões previstos para 2025. A pessoa pode tomar uma decisão, e até comprar, sem nunca entrar no seu site. Isso muda completamente as regras do jogo.

De “aparecer no topo” para “ser citado pela IA”

Nesse novo cenário, o desafio não é mais pagar para aparecer, mas ter conteúdo que a IA considere relevante o suficiente para ser citado. Não basta investir em anúncio, tem que estruturar seu conteúdo para ser lido e entendido por sistemas de IA.

A IDC América Latina estima que o uso de inteligência artificial deve crescer 49% em 2025, com as empresas priorizando automação de processos e melhoria no relacionamento com clientes. Grandes anunciantes já começaram a reduzir investimentos em palavras-chave tradicionais e aumentar o foco em conteúdo educativo estruturado.

Segundo Pietro Delai, diretor de pesquisa da IDC, “2025 e 2026 serão o momento da virada e vamos ver IA ampla e não só GenAI. Teremos, efetivamente, negócios movimentados por IA”.

Casos reais: quem já entendeu o jogo

A Salve é um exemplo interessante. Recentemente, testei uma busca no ChatGPT sobre rotinas de skincare, e a marca apareceu nas respostas não vendendo produtos, mas oferecendo rotinas completas, explicando cada passo. A IA usou como fonte o próprio site da marca.

Eles criaram um modelo de navegação e conteúdo que favorece exatamente esse tipo de resposta: rotinas por tipo de pele, explicações práticas e uma estrutura simples de ler para humanos e máquinas. Não vendem só um produto, oferecem um caminho.

Mas não estão sozinhos, Natura e O Boticário também estão adaptando suas estratégias, investindo pesadamente em conteúdo científico e arquitetura de informação clara, elementos que as IAs priorizam ao buscar fontes confiáveis.
Marcas internacionais como CeraVe e The Ordinary aparecem frequentemente em respostas de IA por estratégias similares.

O que muda para as marcas?

Os brasileiros já abraçaram essa mudança: 78% utilizam IA no trabalho e 88% consideram essencial o uso da IA para lidar com informações complexas e encontrar soluções inovadoras, segundo a pesquisa Google-Ipsos.

Essa mudança de comportamento impacta diretamente:

● Como os consumidores tomam decisão: 81% dos brasileiros já usam IA para busca por informações online;
● Onde vale (ou não) investir em mídia: o ROI de content marketing já supera mídia paga tradicional em várias categorias;
● Como capturar dados se o cliente não passa mais pelo seu site;
● E como estruturar seu conteúdo para ser relevante em ambientes de IA.

Um relatório de Harvard sobre os 100 principais usos da IA em 2025 mostra que as aplicações estão evoluindo de usos técnicos para aplicações emocionais, com crescimento em terapia, produtividade e desenvolvimento pessoal.

5 movimentos estratégicos para as marcas que querem estar na conversa:

1. Revisar o site com um novo olhar: está fácil de entender? Organizado? Tem conteúdo explicativo ou só propaganda?
2. Criar conteúdos que respondem perguntas reais: do tipo que o cliente faria para uma IA.
3. Monitorar como sua marca aparece nas respostas das IAs: isso é o novo “ranking”.
4. Realocar investimentos em mídia: dados mostram que content marketing estruturado já entrega ROI superior à mídia paga tradicional em várias categorias.
5. Focar em construir uma base de dados direta com o cliente: porque o intermediário agora é uma IA.

Estamos diante de uma virada silenciosa, mas poderosa, e com dados concretos para provar.O consumidor já mudou sua forma de buscar, comparar e decidir.

No Brasil, 65% dos brasileiros veem a IA como promissora (comparado a 57% no mundo), com adoção acelerada especialmente entre consumidores que buscam assistência pessoal (76%) e apoio aos estudos (74%), exatamente o público que mais gasta em categorias como beleza, wellness e lifestyle.

Marcas que entenderem isso primeiro vão sair na frente, não só em relevância, mas em conexão real com seus públicos.

Sua marca está preparada para ser consultada por uma IA? Como você irá tomar decisões sobre investimentos em Marketing diante de um novo comportamento do consumidor?

Dados baseados em pesquisas do Google-Ipsos (2024), Juniper Research (2025), IDC América Latina (2025) e Harvard (2025).

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