Sozinho, sim, solitário, nunca

Sozinho, sim, solitário, nunca

No oitavo andar de um prédio de estúdios, Ana prepara um jantar.

Spaghetti ao sugo 🍝, vinho tinto🍷,  luz de velas 🕯️, jazz na caixinha de som 🎷, tudo é cuidadosamente preparado para ninguém mais chegar.

Lares de uma pessoa

O novo Censo acaba de revelar um dado que até aqui passou despercebido: o número de brasileiros vivendo sozinhos disparou. 

Em menos de uma geração, o que antes era visto como um sinal de esquisitice tornou-se símbolo de autocuidado.

De fenômeno demográfico a mudança cultural

Até os anos 2000, viver só ainda era sinônimo de “ficou para titia/titio”.

Em 2025, é uma declaração: “Sou dono meu tempo”

E não estamos sozinhos nisso, quer dizer, estamos sozinhos, mas estatisticamente juntos com outros países. 

Uma pesquisa da Publicis Groupe projeta que 35% dos lares europeus serão de uma só pessoa até 2050 e o Brasil está se alinhando a esse futuro.

Mas o que mudou?

  • Autocuidado virou prioridade
  • Novas formas de estar junto
  • Criatividade e autonomia ganharam status de virtudes

De repente, o “meu tempo” deixou de ser visto como egoísmo e virou uma prática respeitável.

O paradoxo da individualidade compartilhada

Se esse novo modo de viver te parece estranho, é porque sempre olhamos para ele pelo ângulo errado.

Na verdade, nunca estivemos tão disponíveis para conexões, desde que sejam genuínas.

  • O setor de turismo solo já percebeu o movimento: o número de buscas por “viagem sozinho” cresceu exponencialmente
  • Restaurantes começaram a adaptar seus ambientes para acolher bem quem chega desacompanhado, não como exceção, mas como protagonista
  • Plataformas, como o Airbnb, oferecem experiências personalizadas para o viajante solitário, não para evitar a solidão, mas para celebrar o encontro consigo mesmo

É o paradoxo do nosso tempo: vivemos sozinhos, mais conectados do que nunca.

Menos “atenção”, mais “presença”

Esse novo  estilo de viver solo, porém socialmente integrado, ainda precisa ser compreendido e normalizado.

O que parecia uma tendência isolada se revela um movimento global e cultural amplo.

Viver só é viver com intensidade, com mais tempo, mais escolhas e menos concessões.

E talvez a grande ironia seja essa: quando finalmente aprendemos a ficar sozinhos, significa que estamos prontos para nos conectar de verdade.

Leia também: Direto do Japão – O absurdo que normalizamos – uma reflexão sobre liberdade e medo de usar o celular no espaço público

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *